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Núcleo de Formação Ecoprofissional do Instituto H&H Fauser no Município de Paraibuna - SP |
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Justificativa
Paraibuna está localizada na porção paulista do Vale do Paraíba, na região denominada Alto Paraíba. Sua sede encontra-se nas coordenadas 23°23'10'' S e 45°39'44'' W, a uma altitude de 635m NMM (Paraibuna). A superfície do município é de 809,79kmē, dos quais 784,79kmē são área rural e os 25kmē restantes são área urbana. Limita-se ao norte com o município de Jambeiro; ao sul com o de Caraguatatuba; a leste com os de Redenção da Serra e Natividade da Serra e a oeste com os municípios de Santa Branca e Salesópolis (Paraibuna, sem data). É acessada pela Rodovia dos Tamoios (SP 99), que liga os municípios de São José dos Campos e Caraguatatuba.
Seus verões são brandos e os invernos secos; a temperatura máxima é 32,35 °C e a mínima é 7,5 °C, sendo a temperatura média anual 20,4 °C. Os ventos predominantes no verão vêm do norte e no inverno do sul. A precipitação anual varia entre 1300mm e 1500mm; sendo o mês mais chuvoso dezembro e o mais seco agosto. O clima é classificado como mesotérmico ou CWA, segundo a classificação de Koppen.
O município de Paraibuna está assentado sobre o Planalto Atlântico Paulista, no domínio geomorfológico dos mares de morros do Brasil Tropical Atlântico (Ab'Sáber et al, 1975, 1976), caracterizado por uma topografia "mais ou menos arredondada nas vertentes e ondulante e rugosa nos interflúvios" (Ab'Sáber et al, 1975, 1976). Ross & Moroz (1997) descrevem o relevo da região do Planalto de Paraitinga/Paraibuna como formado por morros altos alongados, cuja altimetria varia de 800m a 1200m e as declividades dominantes variam de 20% a 30%. Predominam os Cambissolos e os Litólicos, que apresentam níveis de fragilidade potencial variando de médio a alto.
No município, é formado o Rio Paraíba do Sul pela junção dos rios Paraitinga e Paraibuna. Entre os anos de 1964 e 1977, foi construída a Usina Hidrelétrica de Paraibuna pela Companhia Energética de São Paulo (CESP), que represou esses dois rios (Companhia Energética ..., 1985). Zuccolo (2000), adotando como critério para a determinação da nascente de um curso d'água a maior distância, afirma que a nascente do Rio Tietê estaria localizada no município de Paraibuna: "a região metropolitana da capital quase coincide com a bat [bacia hidrográfica do alto tietê]. entretanto, há partes de alguns municípios que pertencem à bat, mas não à essa região. é o caso do município ecológico de paraibuna, onde se localizam as cabeceiras dessa bacia, mais distantes e a montante da capital. tem sido considerado que as nascentes do rio tietê localizam-se no município de salesópolis, pelo critério de seguir em direção às nascentes, em cada confluência, pelo fluxo estatisticamente maior, segundo a hidrometria local, se esta for sistematicamente praticada. entretanto, mesmo que este fluxo corresponda à área contribuinte maior, não se garante, em 100% do tempo, a maior vazão; isto a hidrologia nos ensina. parece então que, um critério mais correto (ao total abrigo dos 'caprichos' da natureza) na determinação da autêntica nascente, devesse ser o de distância. se assim for, o tietê nasceria em paraibuna (...)". Também Campos (1909), ao descrever o município de Paraibuna, afirma que o Rio Tietê "tem a sua nascente neste município, no bairro da pedra rajada".
Bacia Hidrográfica do Alto Tietê (BAT), mostrando que as nascentes desta bacia que mais distam da
foz do Rio Tietê (em linha reta ou pelos eixos fluviais) encontram-se em Paraibuna (Fonte: Zuccolo, 2000)
Paraibuna está totalmente inserida no domínio da Mata Atlântica e a porção sul do município abriga trecho do Parque Estadual da Serra do Mar (São Paulo, 1996). Segundo Ab'Sáber et al. (1975, 1976), até o início do ciclo do café (meados do século XIX), a paisagem da região era caracterizada por "florestamento generalizado das vertentes, até níveis topográficos de 1100 a 1300". O desmatamento intensificou-se na década de 1950, para a produção de carvão para a indústria (Companhia Energética ..., 1985). A paisagem florestal original foi transformada em uma paisagem campestre, na qual predominam as espécies vegetais introduzidas para o pastoreio. "quando foram iniciadas as obras das barragens de paraibuna e paraitinga, a paisagem regional possuía de 85 a 90% de pastagens na vertente e nos interflúvios arredondados dos morros, e, apenas, de 5 a 15% de capoeiras e capoeirões residuais situados nas mais diferentes posições geográficas" (Ab'Sáber et al, 1975, 1976).
São observados fragmentos de formações secundárias, de vários tamanhos e estados de conservação, nos tecidos intra (Parque Ecológico do Fundão) e peri-urbano (zona rural), que abrigam fauna e flora expressivas, mas que sofrem com o efeito de ilha. Grandes áreas de pastagens vêm sendo substituídas por silvicultura, desde o início da década 1970, para abastecer as indústrias de celulose e papel, instaladas no Médio Paraíba e na Região Metropolitana de São Paulo.
Estudos de macro-escala e da estrutura da vegetação foram realizados na década de 1980, no âmbito do Projeto Paraibuna (Meguro & Shimizu, 1993). Sob responsabilidade de Marisa Dantas Bitencourt Pereira, foi realizado estudo "em macro-escala, por sensoriamento remoto, da paisagem regional, levando em consideração a cobertura vegetal da mata atlântica, em sua formação original e com influência antropogênica, salientando-se a ocupação dos solos" (Meguro & Shimizu, 1993). O resultado desse estudo está registrado em Meguro & Shimizu (1992).
No município de Paraibuna foram instaladas cinco estações sismográficas, ligadas à Rede Sismográfica do Estado de São Paulo (Mioto, 1994). De 1977 a 1994 foram registrados, aproximadamente, 30.000 eventos sísmicos, induzidos pelo enchimento e pela operação do reservatório (Mioto, 1994). "nestes 17 anos de controle de sismos induzidos pela cesp, nenhum deles chegou a afetar as obras de barramento; entretanto, diversas residências sofreram danos, sem ter suas estruturas comprometidas, além de, por vezes, provocado pânico em alguns moradores de Paraibuna, Ibiaci, Iepê, Primeiro de Maio e Igaratá" (mioto, 1994). estudos de sismicidade na área do reservatório de paraibuna - paraitinga foram, também, realizados por ribotta (1989).
Igualmente na década de 1970, o Órgão das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) criou o Programa "the man and the biosphere" (MaB), que atribui a determinadas áreas do globo terrestre, consideradas de relevante valor ambiental e humano o título de Reserva da Biosfera (UNESCO, sem data). A primeira reserva declarada no Brasil foi a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, em 1991 (UNESCO, sem data). Em 1994, foi declarada a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, integrante da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (UNESCO, sem data). A declaração de Reservas da Biosfera tem como objetivos principais a correta utilização de seus ambientes naturais e modificados e o desenvolvimento sustentável através da gestão participativa, que considera o desenvolvimento da pesquisa científica, a conservação da biodiversidade e a promoção social dos diversos agentes que estão atuando em seu espaço (UNESCO, 2005).
Paraibuna, fundada no século XVIII, é um dos setenta e três municípios que integram a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde. Sua economia, que foi inicialmente impulsionada pelo ciclo do ouro (século XVIII) e posteriormente pelo ciclo do café (século XIX), continua em transformação: a pecuária vem sendo substituída, paulatinamente, pela silvicultura e o turismo receptivo, baseado nas belezas cênicas do município, principalmente as represas, tem sido apontado como alternativa econômica, tanto para a área urbana como para a rural (Paraibuna). O município abriga e é alvo de novos projetos de equipamentos de geração e transporte de energia, responsáveis por interferências significativas na paisagem: a Usina Hidrelétrica de Paraibuna, que inundou 159kmē da área do município; uma linha de transmissão de energia, que desce os contrafortes da Serra do Mar, um oleoduto da Petrobrás, que segue até a refinaria de Salesópolis e um gasoduto, em fase de estudo de impacto ambiental, interligará o município de Caraguatatuba ao de Taubaté.
Tais projetos de infra-estrutura não resultaram em desenvolvimento do município, que se caracteriza, a semelhança dos demais municípios do Alto Paraíba, como exportador de mão-de-obra para o Médio Paraíba industrializado e bem dotado de instituições de pesquisa e de ensino universitário. Paraibuna tem vivenciado um declínio de sua população, que em 1932 era de 25.000 habitantes e, em 2000, era de 17.009 habitantes (IBGE, sem data), número praticamente igual aos 17.000 habitantes, com os quais o município contava em 1909 (Campos, 1909). A população atual do município, segundo projeção do IBGE, é de 18.000 habitantes.
Buscando contribuir para a retomada do desenvolvimento de Paraibuna, em base sustentáveis, foi fundado, em outubro de 2005, o Instituto H&H Fauser para o Desenvolvimento Sustentável e a Cultura, uma associação civil, sem fins econômicos, que tem entre os seus objetivos a capacitação para o desenvolvimento sustentável; para a conservação do meio ambiente; para a promoção da cultura; para a conservação do patrimônio histórico, artístico, cultural e paisagístico. Encontra-se, igualmente, entre os seus objetivos o desenvolvimento de estudos, pesquisas e a produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos relacionados a essas atividades. O Núcleo de Formação Ecoprofissional, é a estrutura criada pelo Instituto H&H Fauser para a realização desses objetivos.
Objetivos
Geral
Desenvolver estudos, pesquisas e programas de capacitação para o ecomercado(1), tendo como premissa básica que o município de Paraibuna está assentado sobre uma paisagem predominantemente florestal e de solos suscetíveis à erosão, e que seu desenvolvimento econômico deve privilegiar o uso sustentável das florestas e uma silvicultura que considere as fragilidades da paisagem, assim como as indústrias derivadas dessas duas atividades e a agro-silvicultura.
Objetivos Específicos
Criar um centro de referência para a pesquisa e a capacitação em ecomercado e planejamento da paisagem;
Desenvolver estudos e pesquisas relacionados ao desenvolvimento sustentável, à conservação do meio ambiente, à conservação do patrimônio histórico, artístico, cultural e paisagístico, à bioconstrução e ao planejamento da paisagem;
Desenvolver programas de capacitação relacionados à implantação e ao manejo racional de florestas, à utilização sustentável da madeira na construção civil, ao "eco desing", à bioconstrução, à recuperação ambiental; à agro-silvicultura; à agricultura ambientalmente equilibrada; à produção e ao uso de energias ambientalmente amigáveis, ao turismo sustentável e à recuperação e à conservação do patrimônio histórico, artístico, cultural e paisagístico.
Etapas
Etapa 1 - Implantação e consolidação do Programa de Jovens - Meio Ambiente e Integração Social (PJ-MAIS), da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo (RBCV)
O "programa de jovens - meio ambiente e integração social (pj-mais)" visa qualificar jovens para a atuação no mercado de trabalho voltado ao meio ambiente, ou ecomercado de trabalho. Esse programa da RBCV é desenvolvido em parceria com prefeituras, sociedade civil, setor privado e universidades, e desde 1996 está fomentando formas criativas e apropriadas para a conservação ambiental e a inclusão social em áreas sob forte pressão urbana, como regiões de mananciais e zonas de amortecimento de unidades de conservação. O PJ-MAIS atua em rede (atualmente composta por 14 municípios) e em virtude de sua flexibilidade, adapta-se em quase todas as realidades sócio-ambientais. O Instituto H&H Fauser e RBCV estabeleceram parceria para a implantação de um Núcleo Local do PJ-MAIS no município de Paraibuna.
As turmas do PJ-MAIS estão dimensionadas para abrigar até 30 alunos, que passam por um processo de capacitação para o ecomercado com duração de 4 semestres. Uma nova turma é selecionada a cada 2 semestres, de modo que os novos alunos convivam com os antigos e sejam por eles tutorados.
Todos os módulos têm aula 3 dias na semana, com 4 horas de duração cada dia. As aulas são divididas em práticas e teóricas e a formação integral, distribuídas de maneira que todos possam participar.
O primeiro módulo segue a carga horária mínima de 156 horas no semestre e suas atividades distribuem-se em 3 oficinas, com 42 horas por semestre cada, e a formação integral, com 30 horas por semestre.
O segundo módulo segue com 204 horas no semestre, completando a carga horária obrigatória de 360 horas por ano e suas atividades distribuem-se em 3 oficinas, com 58 horas por semestre cada, e a formação integral, com 30 horas por semestre.
Os terceiro e quarto módulos seguem com 180 horas por semestre e suas atividades distribuem-se em 2 oficinas, com 60 horas cada por semestre, e a formação integral, com 30 horas por semestre.
A consolidação do programa é esperada para o terceiro ano de funcionamento do Núcleo Local, a partir do qual, existindo demanda e a necessária estrutura, as novas turmas poderão ser admitidas a cada semestre.
O PJ-MAIS funcionará na antiga escola da Fazenda São Pedro, Paraibuna, cedida em comodato ao Instituto H&H Fauser, até a construção da sede do Núcleo de Formação Ecoprofissional, no bairro Colinas, em terreno igualmente cedido em comodato, pela Fazenda São Pedro, ao Instituto H&H Fauser.
Etapa 2 - Construção da Sede
A Sede do Núcleo de Formação Ecoprofissional é um conjunto de dois edifícios e um viveiro-escola para produção de mudas, concebido para se tornar uma referência positiva na paisagem e uma referência diária e constante de bioconstrução, permacultura e uso sustentável da madeira na construção civil para os seus freqüentadores.
Procurou-se dotar os edifícios, interna e externamente, de grande valor estético, em harmonia com o local, de forma a induzir transformações positivas no seu entorno, dotado de poucos atributos urbanísticos. As instalações do primeiro edifício contam com 4 salas de aula, para 30 estudantes cada, salas de apoio para a administração do Núcleo e jardins. As instalações do segundo edifício contam com biblioteca; auditório para aproximadamente 250 lugares, cafeteria/refeitório e jardins.
Prevista para ser desenvolvida de forma modulada, a construção dos edifícios será utilizada como instrumento de capacitação dos integrantes do Programa de Jovens, de estudantes e profissionais de arquitetura e engenharia civil e demais interessados nas técnicas da bioconstrução e da permacultura e no uso sustentável da madeira na construção civil.
A Sede do Núcleo de Formação Ecoprofissional será instalada no bairro Colinas, numa área de 5alq, aproximadamente, com frentes para a Rodovia dos Tamoios e a Estrada Municipal Paraibuna - Santa Branca. Após sua construção, os edifícios abrigarão o Programa de Jovens - Meio Ambiente e Integração Social e os demais programas de capacitação e as atividades culturais do Instituto H&H Fauser, assim como poderão abrigar atividades relacionadas com os objetivos do Instituto, desenvolvidas por outras instituições.
Autor do projeto : Dr.Carlos Alberto da Silva Filho
1 Ecomercado é entendido aqui como o mercado de trabalho voltado ao meio ambiente (voltar)